José Outeiral –
Psiquiatra e Psicanalista especialista em crianças e adolescentes
A sociedade contemporânea passa
por uma série de rápidas transformações em que paradigmas e valores que se
mantinham aparentemente estáveis, há décadas, estão sendo contestados,
modificados ou, mesmo, substituídos por outros. Essa situação torna difícil a
educação de crianças e adolescentes, tanto por parte da família como da escola.
Uma série de perguntas nos vem à mente: que valores devem ser preservados e
quais os que podem ser transformados?
Como trabalhar as questões da ética e da moral numa sociedade em
mudança?
Acredito que possamos ter alguns
elementos para refletir sobre nossas interrogações. Crianças e adolescentes necessitam de adultos
com os quais estabeleçam identificações positivas e estruturantes, de maneira
que possam construir adequadamente suas personalidades. A identidade é constituída por
identificações: inicialmente a família é o grupo fundamental para esta
atividade psíquica, mas a medida que o tempo passa e eles crescem e se
desenvolvem, outras pessoas (grupos de amigos, colegas, professores, artistas e
desportistas, indivíduos que tem evidência na mídia e outros) passam a ser
também modelos identificatórios. Dessa
maneira teremos tanto identificações patológicas, que produzem sentimentos e
comportamentos inadequados.
Quais os modelos a sociedade
oferece aos nossos jovens? Quais os
valores que são, na família, na escola e na sociedade como um todo,
transmitidos?
Seguramente todos sabem que a
base da estruturação da personalidade com seus valores está no grupo familiar. Quanto mais adequada, coerente, consistente e estável for a relação na família
mais a criança estará em condições de enfrentar as turbulências que,
inevitavelmente, encontrarão ao longo de suas vidas. O fundamental, quero enfatizar, é o exemplo
dos pais. A maneira como os pais se comportam,
suas atitudes, verbais e não verbais, estão sendo atentamente observadas pelas
crianças e adolescentes. Falar de
limites para os filhos, mas não ter limites, como acontece com alguns adultos,
é percebido pelas crianças. Sugiro que não se deva subestimar a capacidade de
compreensão das crianças.
Assim como o exemplo dos pais é
fundamental, o dos professores também o é; a família e a escola são –
particularmente neste momento de rápidas transformações de valores – espaços de
constituição da personalidade de crianças e adolescentes. Eles estarão atentos, nos observando,
buscando elementos para a organização de suas personalidades através das
identificações: de início, de forma que parece uma simples imitação (a forma de
falar de um, de andar de outro, enfim, como uma colcha de retalhos, em que cada
retalho é um aspecto de alguém) e depois, ao longo do tempo, vão fazendo um
amálgama desses diferentes aspectos e constituirão suas individualidades (“não
mais divisível”, único), suas singularidades, suas formas de ser. A parceria família e escola é fundamental.
Fonte: A&E Atividades e Experiências – Editora Positivo
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