sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A família, a escola e a transmissão de valores


José Outeiral – Psiquiatra e Psicanalista especialista em crianças e adolescentes

A sociedade contemporânea passa por uma série de rápidas transformações em que paradigmas e valores que se mantinham aparentemente estáveis, há décadas, estão sendo contestados, modificados ou, mesmo, substituídos por outros. Essa situação torna difícil a educação de crianças e adolescentes, tanto por parte da família como da escola. Uma série de perguntas nos vem à mente: que valores devem ser preservados e quais os que podem ser transformados?  Como trabalhar as questões da ética e da moral numa sociedade em mudança?

Acredito que possamos ter alguns elementos para refletir sobre nossas interrogações.  Crianças e adolescentes necessitam de adultos com os quais estabeleçam identificações positivas e estruturantes, de maneira que possam construir adequadamente suas personalidades.  A identidade é constituída por identificações: inicialmente a família é o grupo fundamental para esta atividade psíquica, mas a medida que o tempo passa e eles crescem e se desenvolvem, outras pessoas (grupos de amigos, colegas, professores, artistas e desportistas, indivíduos que tem evidência na mídia e outros) passam a ser também modelos identificatórios.  Dessa maneira teremos tanto identificações patológicas, que produzem sentimentos e comportamentos inadequados.

Quais os modelos a sociedade oferece aos nossos jovens?  Quais os valores que são, na família, na escola e na sociedade como um todo, transmitidos?

Seguramente todos sabem que a base da estruturação da personalidade com seus valores está no grupo familiar. Quanto mais adequada, coerente, consistente e estável for a relação na família mais a criança estará em condições de enfrentar as turbulências que, inevitavelmente, encontrarão ao longo de suas vidas.  O fundamental, quero enfatizar, é o exemplo dos pais.  A maneira como os pais se comportam, suas atitudes, verbais e não verbais, estão sendo atentamente observadas pelas crianças e adolescentes.  Falar de limites para os filhos, mas não ter limites, como acontece com alguns adultos, é percebido pelas crianças. Sugiro que não se deva subestimar a capacidade de compreensão das crianças.

Assim como o exemplo dos pais é fundamental, o dos professores também o é; a família e a escola são – particularmente neste momento de rápidas transformações de valores – espaços de constituição da personalidade de crianças e adolescentes.  Eles estarão atentos, nos observando, buscando elementos para a organização de suas personalidades através das identificações: de início, de forma que parece uma simples imitação (a forma de falar de um, de andar de outro, enfim, como uma colcha de retalhos, em que cada retalho é um aspecto de alguém) e depois, ao longo do tempo, vão fazendo um amálgama desses diferentes aspectos e constituirão suas individualidades (“não mais divisível”, único), suas singularidades, suas formas de ser.  A parceria família e escola é fundamental.

Fonte: A&E Atividades e Experiências – Editora Positivo

Nenhum comentário:

Postar um comentário